Uma perspectiva redentora sobre o dinheiro
Uma perspectiva redentora sobre o dinheiro – Artigo de Brian Heap publicado originalmente na Revista Ultimato Nesses últimos dois anos, tive o privilégio de participar de uma conferência chamada “Redeeming Money” (Redimindo o Dinheiro), onde mais de duas mil pessoas reuniram-se na Flórida, Estados Unidos, para compartilhar aprendizados sobre mordomia cristã e inovadoras estratégias, processos e produtos do mercado financeiro, especificamente criadas pensando num público que se identifica com a cosmovisão bíblica sobre dinheiro. Ao andar pelos corredores do evento, conversar com os participantes e ouvir as palestras, fico sonhando sobre como será quando esse movimento, que já chegou em terras brasileiras, realmente deslanchar. O sonho é grande, mas creio que extremamente pertinente para o mundo de hoje, onde alguns argumentam que dinheiro é o motor principal de praticamente todas as grandes movimentações globais. Então, se o mundo é movido por dinheiro, talvez uma das maiores contribuições que os cristãos possam oferecer é uma perspectiva redentora sobre dinheiro. Na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo humildemente nos motiva a permitir que Deus transforme o nosso jeito de pensar. Então qual será a nova perspectiva redentora sobre o dinheiro que nos permite experimentar a boa, perfeita e agradável vontade de Deus? Sugiro abaixo duas mudanças na forma de pensar sobre dinheiro: 1. De dono para mordomo 2. De focado em si para focado no reino Perspectiva redentora sobre o dinheiro: 2 mudanças na forma de pensar o dinheiro 1- Mentalidade de dono para mentalidade de mordomo A tentação de se posicionar como dono dos recursos é grande pelos benefícios que imaginamos: privilégio, poder, controle, segurança etc. Em contrapartida, ser mordomo muitas vezes é associado à falta ou diminuição desses mesmos benefícios. Pensamos em recursos como um jogo de soma zero onde toda a vantagem é do dono e o mordomo está a mercê da boa vontade do dono. Não gostamos dessa posição vulnerável, não gostamos da ideia de sermos mordomos porque imaginamos como seria servir alguém como nós. A fé cristã traz uma nova perspectiva sobre a relação de dono e mordomo. A parábola dos talentos conta de um dono que assume o risco (deu a cada um conforme sua capacidade), mas compartilha o sucesso (venha celebrar comigo). A parábola dos trabalhadores da vinha revela um dono que é radicalmente generoso, definindo o salário pelos seus critérios e não pelo o que o mercado impõe. A parábola do filho pródigo mostra a disposição do dono em redimir o fracassado e não somente considerá-lo servo, mas filho! Quando conhecemos o caráter do dono de tudo, percebemos como é libertador servir a Deus. Trabalhamos para aquele que assumiu todo o risco, é generoso, misericordioso e, no final da história, nos convida para participar da Sua celebração. Nessa condição, quem não quer ouvir “servo bom é fiel”? 2- De focado em si para focado no Reino A preocupação com a nossa provisão é capaz de consumir todo o nosso ser: dinheiro, tempo, pensamento, energia, sentimentos, relacionamentos etc. O egocentrismo desenfreado não consegue ver além de si, pois sempre se considera ou o mais necessitado ou o mais indispensável. Quem vive nessa condição só consegue imaginar que o recurso financeiro em sua vida existe para cuidar das próprias necessidades, desejos e sonhos ou no máximo as necessidades, desejos e sonhos daqueles pelo qual tem algum tipo de afeto diferenciado. Essa perspectiva do dinheiro leva-nos à uma condição que Agostinho chamou incurvatus in se (curvado para dentro de si mesmo). Se Agostinho falasse português, teria dito na linguagem popular que é a pessoa que só olha para o próprio umbigo. Interessante refletir que C. S. Lewis, no livro O Grande Abismo, também se apropria do conceito incurvatus in se quando tenta explicar o que é uma alma condenada e o inferno. Lewis escreve: “uma alma condenada é praticamente nada: ela é encolhida, fechada em si mesma… Seus dedos estão dobrados, seus dentes cerrados, seus olhos fechados”. E falando sobre o inferno Lewis escreve: “O Inferno inteiro é menor do que um pedregulho do seu mundo terrestre: mas é ainda menor do que um átomo deste mundo, o Mundo Real [céu]”. Não deve ser assim para os cristãos! Jesus chamou a atenção dos seus discípulos quando disse que a busca pela comida, bebida e roupa são o que ocupa os pensamentos dos pagãos (Mt 6.32). Ao invés disso, ele instrui aos seus discípulos que busquem em primeiro lugar o reino dos céus. Quem busca um reino, não tem como ficar olhando somente para o próprio umbigo! Torna-se necessário levantar o semblante e olhar a sua volta e para o distante, dessa forma quebrando a prisão claustrofóbica do incurvatus in se e descobrindo que o reino dos céus é um plano muito maior, estabelecido por um rei e em qual somos um entre muitos súditos: amando mutuamente, trabalhando juntos, considerando os outros mais importantes que nós, se preocupando com os interesses alheios etc. (Fp 2.2-4). Nessa condição, quando priorizamos o reino dos céus no uso do dinheiro, colocamos em prática a oração “venha o teu reino, seja feita a tua vontade” e somos redimidos da prisão do egocentrismo para o reino de seu Filho amado (Cl 1.13). A nossa perspectiva sobre dinheiro demonstra onde está o nosso coração. Aqui uso o termo coração no sentido que Jesus usou em Mateus 6:21, “Onde seu tesouro estiver, ali também estará seu coração”. Muito mais do que emoções ou sentimentos, coração aqui refere-se as nossas convicções ou crenças. E são nossas convicções e crenças que influenciam o nosso comportamento. Quando agimos no mundo como mordomos e com o olhar ampliado para contemplar todo o reino de Deus, demonstramos que é possível servir a Deus e não a Mamon. Brian Heap é marido, pai, pastor, palestrante, fundador da O SUFICIENTE, sócio da Bridgen Planejamento Financeiro, membro de conselhos e aficionado por jogar tênis.
Por que não podemos servir a Deus e ao dinheiro?
Servir a Deus e ao dinheiro é possível? No conteúdo de hoje vamos explanar o assunto e trazer luz e entendimento sobre o por que não podemos servir a Deus e ao dinheiro. Este artigo é o primeiro de cinco que serão publicados ao longo de 2023 sobre o tema “Economia do reino, mordomia cristã e generosidade”, assinados por Brian Heap, Fabio Marques, CFP® e Gustavo Ipolito Jr, na Revista ULTIMATO. Todos nós temos histórias que podemos compartilhar sobre o dinheiro em nossas vidas. Algumas histórias são felizes e outras tristes; histórias de escassez e outras de abundância; histórias de grande liberdade e outras de grande vulnerabilidade; histórias pessoais e outras histórias da vida em comunidade etc. Quais são suas histórias? Nossas histórias e relação com dinheiro Eu me recordo de uma história sobre dinheiro da minha infância. Foi o primeiro Dia das Crianças que eu tive a consciência de que eu não iria ganhar um presente. Meus pais haviam decidido que eu e meus irmãos já tínhamos tudo que precisávamos e ainda mais. Então, alguns dias antes do Dia das Crianças, nós saímos para comprar um presente para os filhos de uma família que não tinha condições de comprar. Acredito que eu tenha ficado frustrado ao perceber que eu não receberia um presente, mas confesso que não lembro desse sentimento. O que está gravado em minha memória é a alegria daquelas crianças que experimentaram o inesperado e uma amizade foi construída entre nossas famílias. Muitos anos depois eu fui entender por que aquela experiência ficou gravada em minha memória. Num mundo que valoriza o uso do dinheiro de forma impessoal, para conseguir suas vontades sem ter que submeter a relacionamentos, aquele momento foi uma afronta não ao dinheiro, mas a Mamon. Mamon é um termo que tem estado ausente em muitos dos nossos ambientes cristãos, embora seja o nome pessoal que Jesus Cristo deu ao dinheiro (Mateus 6:24). Falamos bastante sobre dinheiro na Igreja (dízimos, ofertas, projetos, missões etc.), mas raramente temos discutido o que Mamon está tentando fazer com o nosso mundo. Servir a Deus e ao dinheiro? Impossível! O teólogo e autor Andy Crouch escreve que a promessa mais sedutora de Mamon é a vida abundante sem dependência, é satisfazer os desejos do nosso coração com dinheiro sem a necessidade da reciprocidade ou relacionamentos de lealdade. A promessa de Mamon é extremamente perigosa por três motivos: 1- Primeiramente, porque realmente vivemos num mundo onde quase todos nossos desejos e necessidades podem ser comprados com dinheiro. 2- Em segundo lugar, porque o apelo é feito ao nosso coração, que sabemos ser enganoso e desesperadamente corrupto (Provérbios 4:23). 3- Em terceiro lugar, muitas vezes, as intenções do nosso coração não são imediatamente visíveis. Então, quem pode sondar o coração do homem? Na superfície, compartilhamos nossas histórias sobre dinheiro, mas raramente compartilhamos as nossas lutas com Mamon. E essas lutas acontecem em todos os lugares. É o pastor que diz não querer que o membro se afaste da fé, mas no íntimo está preocupado com o dízimo que a Igreja deixará de receber. É o profissional que não pode deixar a empresa corrupta onde trabalha, porque não terá condição de manter o padrão de vida ao qual sua família tem se acostumado. É o empresário que não “dá a César o que é de César” e justifica com o fato de o governo ser corrupto, mas não reconhece também os erros de gestão e ganância do próprio coração. É o olhar em outra direção diante das necessidades sociais, preferindo a pergunta “O que será de mim, se eu ajudar?” ao invés da pergunta “O que será deles, se eu não ajudar?”. É um coração sempre muito tentado pela próxima novidade/oportunidade, sem perceber o custo cobrado sobre sua própria alma. Mamon é uma potestade e por isso Jesus deixa claro que não é possível servir a Deus e Mamon. Como podemos proteger o nosso coração diariamente dos esforços de Mamon? Sugiro quatro princípios bíblicos para blindar nosso coração. 04 princípios para blindar nosso coração dos apelos de Mamon 1. Lembrarmos que somos mordomos e não donos. a. Aquilo que temos são recursos dados por Deus para objetivos dados por Deus. b. O coração do mordomo não está no dinheiro, porque o dinheiro não é dele. O coração está em Deus, porque a Ele tudo pertence (Salmos 24:1). 2. Exercitarmos o contentamento. a. O contentamento não é o que teremos quando algo acontecer (futuro), mas o que experimentamos na provisão do pão nosso de cada dia (presente). b. O coração contente tem disposição de ser generoso ao invés de sempre desejar melhorar o seu padrão de vida. 3. Aplicarmos a sabedoria bíblica. a. A sabedoria bíblica é verdadeira, atemporal, transcendente e relevante. b. O coração que cultiva a sabedoria bíblica não precisa achar “jeitinhos” e nem apressar o resultado, e, portanto, é menos suscetível à corrupção. 4. Vivermos uma fé genuína em Deus. a. A fé genuína em Deus é uma mão aberta, que permite Deus colocar e tirar o que Ele quiser, entendendo que tudo é um processo para amadurecer a soberania Dele em nossas vidas. b. O coração cheio de fé nos liberta da pressão do “aqui e agora” dos produtos financeiros, ampliando nossa perspectiva de Deus e visão do futuro. Adentremos o dia a dia desse mundo, controlado por Mamon, com corações fortalecidos para levar uma mensagem diferente sobre o dinheiro. Uma mensagem exatamente oposta ao desejo de Mamon de destruir a pessoalidade da criação, mas totalmente alinhada com os propósitos de Deus que em Cristo está reconciliando o mundo consigo e nos fazendo embaixadores dessa reconciliação. Buscando orientação sobre como planejar e investir corretamente seus recursos, sem se tornar escravo do dinheiro, mas sendo um bom mordomo dele? A Bridgen pode te auxiliar nessa jornada. Brian Heap é marido, pai, pastor, palestrante, fundador da O SUFICIENTE, sócio da Bridgen Planejamento Financeiro, membro de conselhos e aficionado por jogar tênis.
O princípio do tesouro nos céus: uma estratégia de câmbio eterno
Tesouro nos céus: você já ouvir falar sobre esse princípio? Vamos te explicar de que forma o conceito de tesouro nos céus perpassa por uma estratégia de câmbio eterno. Imagine por um momento que você receba um convite para mudar-se com sua família para trabalhar em outro país. Você analisa a oferta e, do seu ponto de vista atual, parece muito boa. O pacote oferecido parece que dará a você condição de cuidar bem da sua família e ainda sobrar. Não existe prazo determinado para você ficar no outro país, mas existem dois detalhes muito importantes. A sua pátria só permite você permanecer em outro país enquanto estiver ativo (trabalhando). Então, ao encerrar sua época de trabalho naquele país, você terá que voltar para a sua pátria. É proibido retornar à sua pátria com dinheiro em espécie. Então qualquer valor que você queira ter, após encerrar seu tempo no outro país, você terá que enviar para sua pátria antes, através de remessas. Analisando o convite, você chega a algumas conclusões: A vida naquele país será boa. Ao mesmo tempo, você sempre precisará ter em mente que a vida lá é temporária, embora o prazo seja indeterminado. Financeiramente, não fará sentido acumular grandes riquezas naquele país, pois você não conseguirá levar nada com você quando o tempo lá acabar. Você precisará planejar e ser proativo, pois não dependerá só de você a decisão de quando encerrará o seu trabalho naquele país. Você deverá enviar, antecipadamente, as riquezas para sua pátria. Analisando a história e as conclusões apresentadas, o que você faria? Se fosse sua história, quais decisões tomaria? E se eu lhe falar que esta é a sua história? Embora sua história esteja ainda sendo escrita, você está vivendo em “outro país”, e um dia o seu trabalho terminará. Na história contada acima, o fim do período de trabalho é a morte. No dia da sua morte, você não terá mais como usufruir das riquezas acumuladas nesta vida. Tudo que você acumular aqui, ficará aqui, para que outras pessoas usufruam. Os cristãos, em sua maioria, vivem esta vida completamente esquecidos de que, embora seja boa a vida aqui, ela é temporária; e que um dia iremos para nossa pátria celestial, deixando para trás não somente tudo que consumimos nesta vida, mas também tudo que acumulamos. Alguns, quando finalmente se dão conta desta realidade, passam a viver uma vida de gastos cada vez maiores e, infelizmente, com cada vez menos contentamento. Mas Jesus estava querendo ensinar aos seus discípulos que existe uma solução para que não sejam desperdiçadas as riquezas nesta vida. A solução de Jesus está registrada no livro de Mateus 6.19-21: “Não ajuntem tesouros aqui na terra, onde as traças e a ferrugem os destroem, e onde ladrões arrombam casas e os furtam. Ajuntem seus tesouros nos céus, onde traças e ferrugem não destroem, e onde ladrões não arrombam nem furtam. Onde seu tesouro estiver, ali também estará seu coração”. Jesus estava dizendo aos seus discípulos que existe uma forma de eles enviarem antecipadamente as riquezas desta vida para onde eles irão passar a eternidade. Esta solução chama-se o Princípio do Tesouro nos Céus. A verdade é que tudo que tentamos acumular iremos perder, ou nesta vida, ou na morte. Mas tudo que colocamos nas mãos de Deus, será nosso, como filhos de Deus, por toda a eternidade. O princípio do Tesouro nos Céus Talvez você esteja pensando: “Mas, na prática, como posso fazer estas ‘remessas financeiras’ e ajuntar tesouros no céu?”. Para isto, deixe eu usar um exemplo de câmbio financeiro. Hoje, você pode entregar reais, a moeda brasileira, para uma instituição financeira autorizada a negociar câmbio. Em contrapartida, a instituição financeira irá entregar a você um valor na moeda do outro país. Neste exemplo, a instituição financeira serve como intermediária para que haja a conversão do valor acumulado em reais para o valor correspondente na moeda de outro país. Será que Jesus está tentando ensinar os seus discípulos que existe uma forma de fazer o câmbio de coisas temporais por coisas eternas? Eu creio que sim. Pelo jeito, os discípulos entenderam que sim, porque o mesmo texto sobre vender seus bens e dar o dinheiro aos pobres, para ter tesouros no céu, aparece em três dos evangelhos (Mt 19.21; Mc 10.21; Lc 12.33). Além disto, aparentemente, o apóstolo Paulo também entendeu desta forma e instruiu Timóteo com o seguinte conselho: “Diga-lhes que usem seu dinheiro para fazer o bem. Devem ser ricos em boas obras e generosos com os necessitados, sempre prontos a repartir. Desse modo, acumularão tesouros para si como um alicerce firme para o futuro, a fim de experimentarem a verdadeira vida” . 1Timóteo 6.18,19. Também quero ressaltar que, tanto nos textos dos evangelhos como na instrução de Paulo, há uma clara preferência por um perfil específico de “cambista”. Aparentemente, Deus certifica o perfil do pobre ou necessitado como “cambista” para a troca entre bens temporais e bens eternos. Confesso que ouço de várias pessoas alguns tipos de objeção referentes ao “cambista” que Deus aparenta preferir. Embora eu também creia que precisamos praticar a mordomia cristã na hora de sermos generosos, vale lembrar que, na troca de moedas nacionais no nosso mundo, nos preocupamos menos com quem está fazendo o câmbio e mais com valor que estamos recebendo na nova moeda. A garantia não está no mérito do cambista, mas na economia do novo país. Talvez por isto, os heróis da fé confiaram, pois “embora não tenham recebido todas as coisas que lhes foram prometidas, as avistaram de longe e de bom grado as aceitaram”. (Hebreus 11.13) Então, se você quer ajuntar tesouro nos céus, mas não sabe por onde começar, deixo aqui algumas sugestões: Busque uma vida de contentamento, reconhecendo que Deus tem provido o que é necessário e muito mais, para você e aqueles que você ama. Procure ferramentas e/ou profissionais qualificados que possam ajudar você a definir o quanto é o suficiente para hoje e para este breve período de vida. Peça sabedoria a Deus sobre onde praticar generosidade com aquilo que Ele
O SUFICIENTE: Como dosar vida e dinheiro
Você já se perguntou sobre como dosar vida e dinheiro? Se perguntou ou se pergunta sobre o quê ou quanto é suficiente? Vamos fazer uma reflexão sobre isso. Continue a leitura! Quem nunca gastou tempo ou dinheiro de forma desproporcional num novo serviço, produto, alimento, relacionamento, etc.? Talvez tenha até ouvido de alguém preocupado o provérbio: A diferença entre o remédio e o veneno é a dose[1]. Muito provavelmente você também lembra que o serviço virou comum, o produto saiu de linha, o alimento parou de dar água na boca e, infelizmente, muitas vezes o relacionamento foi perdendo a sua importância. Parece que, desde pequenos, somos doutrinados a pensar que “mais é melhor”. Mas as experiências da vida, como as citadas acima, nos lembram que mais tem um limite e que muitas vezes nos faltam referências para sabermos quando o mais está se tornando demais. A verdade é que algumas vezes só percebemos que passamos do limite quando começa a chegar à conta: tempo e dinheiro desperdiçado, perdas na saúde física, intelectual e emocional, corrosão das relações sociais, etc. O dinheiro nas nossas vidas talvez seja o que mais se submete a este ensinamento, “mais é melhor”. Aliás, muitas vezes tentamos resolver a conta acima com mais dinheiro: compramos o tempo de outros, repomos o dinheiro desperdiçado, pagamos por bons tratamentos de saúde física, intelectual e emocional e algumas vezes até criamos relações sociais com nosso dinheiro. Mas invariavelmente, em algum momento, a conta não fecha! Veja o que Eduardo Giannetti tem a dizer sobre esta busca constante por mais: “O ideal moderno de vida – a ambição de ganhar e consumir sempre mais, ao passo que se permanece indefinidamente jovem, esbelto e distraído – não se sustenta…O fato simples é que, se o critério de sucesso (ou o sentido) de nossa existência for definido segundo esse ideal, então a vida humana nunca poderá ser mais que uma batalha vã, perdida antes mesmo do seu início.”[2] No livro A Vida ou o Dinheiro, Vick Robin argumenta que mais dinheiro em nossas vidas é bom até um ponto. No decorrer das nossas vidas, normalmente o nosso poder aquisitivo vai aumentando e passamos de uma fase de sobrevivência para conforto e eventualmente um certo luxo. Mas existe um momento em que a satisfação de gastar mais dinheiro é menor do que o custo de vida que desembolsamos para adquirir, fazer gestão e poupar ou gastar o valor adicional. A autora chama este momento de o ponto de suficiência e pode ser representado pelo gráfico abaixo. Então vemos que o dinheiro pode ser um bom remédio, mas que precisamos acertar a dose para não se tornar um veneno em nossas vidas. Esquecemos que mais tem um preço! Quando sonhamos sobre ser mais ou ter mais, imaginamos os benefícios, mas raramente pensamos sobre o custo de vida. Em sua obra clássica sobre economia, WALDEN, o autor Thoreau faz o seguinte comentário sobre este preço: “Afinal, o preço de uma coisa é a quantia, à vista ou a prazo, do que chamarei de vida que é exigida em troca.”[3] O quanto é o suficiente? O suficiente para sobrevivermos, termos conforto e até um certo luxo, sem escassez e sem desperdício. Para responder o quanto é o suficiente, creio que vale a pena entendermos a origem da palavra suficiência. Digo isto porque a maioria das pessoas não se empolgam quando eu digo que é possível terem o suficiente. O olhar mais comum é de uma certa decepção. A crítica é que buscar O SUFICIENTE seja aceitar o cômodo, ao invés de buscar o crescimento. É fazer a régua por baixo. Como dosar vida e dinheiro A origem da palavra suficiente vem da palavra no latim SUFFICERE que é formada por duas palavras: SUB, “para cima” + FACERE, “fazer”. Então ter o suficiente é definir o que você quer ser ou fazer e depois fazer a régua por cima. Neste sentido, a verdadeira liberdade sobre como dosar vida e dinheiro é ter o suficiente! É a capacidade de ser quem você quer ser e fazer o que você quer fazer sem ter que pagar a conta associada com o demais. É viver no pico da curva da suficiência. Então, como descobrir o quanto é o suficiente para você? Deixo aqui quatro passos importantes que você precisa tomar e também uma fórmula que eu uso para avaliar quão perto eu estou vivendo do pico da curva da suficiência. Primeiro, os quatro passos: Tenha claro para você o seu propósito maior de vida e seus objetivos; Busque conhecimento e então coloque em prática uma gestão financeira do dinheiro que entra e sai da sua vida; Crie uma referência interna de valor para avaliar o que vale e o que não vale desembolsar tempo de sua vida para ser ou ter; Desenvolva um senso de responsabilidade pelo bem dos outros para transformar o que seria seu desperdício na suficiência de outros. Provavelmente você está respirando fundo agora, pensando que estes quatro passos são mais pulos do que passos! Mas descobrir o quanto é o suficiente é uma jornada com linhas de chegada e ajustes no dia a dia. Eu gosto de usar esta fórmula para manter o meu foco no que é suficiente para minha vida: Ron Blue, autor e planejador financeiro, compartilha que não importa qual estágio da vida você está. Responder à pergunta “Quanto é o suficiente?” vai te trazer mais liberdade para dizer “sim” para as coisas que estão alinhadas com seu propósito de vida e seus objetivos de vida e também a dizer “não” para as distrações de “mais é melhor”. Assim, você saberá como dosar vida e dinheiro. [4] Se você ainda não começou esta jornada, eu quero te incentivar a descobrir a LIBERDADE DE TER O SUFICIENTE! Saiba como dosar vida e dinheiro. [1] Adaptação do texto original de Paracelso, “Alle Ding sind Gift und nichts ohn’ Gift; allein die Dosis macht, das ein Ding kein Gift ist.” (Todas as coisas são venenos e nada é sem veneno; a dose sozinha torna uma
3 lições de Finanças Pessoais que todo pai/mãe deveria ensinar aos filhos
3 Lições de Finanças pessoais para crianças, adolescentes, adultos. Hoje, vamos falar sobre um tema extremamente importante na educação dos filhos: lidar com Finanças Pessoais. E a partir desse entendimento, vamos tratar aqui de 03 lições de finanças pessoais que todo pai/mãe deveria ensinar aos filhos. Brasil é o 4° pior resultado em educação financeira para adolescentes Se você não está ensinando seus filhos sobre finanças pessoais, muito provavelmente eles têm conhecimento abaixo da média em assuntos relacionados a dinheiro. Isto é a conclusão da última pesquisa realizada pela OECD, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.[1] Adolescentes que aprendem sobre finanças com os pais pontuaram 27 pontos a mais do que adolescentes que não aprendem com os pais. Como comparação os adolescentes que aprendem sobre finanças pela internet pontuaram 10 pontos melhores do que os adolescentes que não aprendem sobre finanças pela internet. Então os nossos filhos precisam aprender sobre finanças em casa do mesmo jeito que nossa geração aprendeu sobre finanças em casa, certo? Só que não! A grande maioria das famílias brasileiras com filhos adolescentes tem pais que só foram aprender sobre finanças pessoais na juventude ou na fase adulta.[2] Então somos pais que sabem a importância de ensinar os filhos sobre finanças pessoais, mas não tivemos modelos de como fazer esta transferência de conhecimento. Talvez isto explique porque o Brasil foi ranqueado como décimo sétimo em educação financeira, dos vinte países avaliados na pesquisa PISA. Quais lições sobre dinheiro são importantes passarmos para os nossos filhos? Segue abaixo uma lista de três ensinamentos que colocados em prática podem dar uma grande vantagem para os nossos adolescentes, a próxima geração de brasileiros adultos. 03 Lições de finanças pessoais para ensinar aos filhos Lição 1: 70% é muito mais do que nada. O primeiro dinheiro que um adolescente recebe sem ser para uma despesa específica é sempre marcante. Muitas vezes este primeiro dinheiro chegou na forma de um presente de aniversário, alguma tarefa extra que foi feita ou uma mesada. Ao receber este dinheiro, a tentação de gastar cada centavo é quase que irresistível e qualquer sugestão de frear este gasto provavelmente será confrontada com um brado de independência! No limiar entre não ter dinheiro algum e de repente receber algum valor existe uma lição muito importante sobre finanças. A resposta mais comum para qualquer sugestão de poupar é quase que uma frustação, embora talvez o adolescente mais maduro acate a sugestão por compreender que é sábio poupar. Se os pais não tomarem cuidado, vão permitir que o filho(a) alimente um sentimento de limitação quando a verdade é exatamente o contrário. Perceba que, antes de receber este dinheiro, o adolescente não tinha nada e agora, por mais que ele(a) separe uma parte para o futuro, terá infinitamente mais do que antes. Este infinitamente mais do que antes é que deve guiar a resposta sentimental do adolescente. O dinheiro não trouxe limitação, trouxe um pouco de autonomia hoje e, quando bem investido, trará um pouco de autonomia no futuro. Vamos para um exemplo prático. Imagine que até então o adolescente não tem dinheiro e não recebe mesada. No mês seguinte o adolescente passa a receber R$100 de mesada, mas é incentivado a separar 30% para investir, porque se ele(a) criar este hábito em mais ou menos vinte anos consegue viver do rendimento. Qual é a real situação do adolescente? O adolescente tem R$100, mas sente uma certa frustração porque só pode gastar R$70 e fica imaginando o que compraria com mais R$30. O adolescente não tinha nada, mas agora os R$70 deram a ele(a) um sentimento de autonomia e ainda terá o rendimento dos R$30 para gastar em algum momento futuro. Esta primeira lição utiliza de um conceito em economia comportamental chamada enquadramento (framing). Você já sacou que não é só 70% que é muito mais do que nada? Quanto os pais vão incentivar os filhos a poupar fica à critério de cada família, mas aprender a poupar sem o sentimento de restrição é uma lição para toda a vida. Lição 2: O dinheiro é prata e o tempo vale ouro.[3] A relação entre tempo e dinheiro é algo realmente fascinante de se observar. Há exceções, mas, de forma geral, a percepção do adolescente é que o tempo sobra e o dinheiro pessoal é escasso. Devido a esta percepção de disparidade tão grande entre tempo e dinheiro, o adolescente tende a desvalorizar o tempo e supervalorizar o dinheiro. A relação inversa entre tempo e dinheiro parece ser confirmada no outro extremo da vida, a velhice. Por isto que, embora não seja possível, tantas pessoas ofereceriam uma boa fortuna por mais alguns dias de vida. A possível desvalorização do tempo no início da vida pode criar uma âncora, impactando negativamente decisões entre tempo e dinheiro nas outras fases da vida. A lição importante para o adolescente é saber que, na coletividade, a tendência é valorizar o dinheiro e desvalorizar o tempo do indivíduo. Nesta dinâmica de tempo e dinheiro, sai na vantagem o indivíduo que consegue valorizar mais seu tempo em detrimento do dinheiro do outro. A responsabilidade de definir o valor do seu tempo cabe ao indivíduo, e ele(a) precisa ter disposição de dizer ‘não’ na esperança de uma oportunidade melhor surgir da coletividade. Eduardo Giannetti, economista brasileiro, nos lembra da importância que o indivíduo tem na valorização do seu próprio tempo: “…o tempo, ao contrário do dinheiro, não é um ativo transferível… é um ativo valioso mas indissociável da pessoa que o detém.”[4] Esta segunda lição depende de dois conceitos da economia comportamental: ancoragem e custo de oportunidade. Os pais têm um papel importante de ajudar seus adolescentes a valorizarem seu tempo, posicionando seus filhos para negociarem melhor a troca de tempo e dinheiro no futuro. Além disto, de alguma forma é necessário imbuir nos filhos algum entendimento de que o tempo também é limitado e que não pode ser poupado ou capitalizado. Portanto, o bom uso do tempo numa atividade é melhor avaliado em comparação com os usos
Dívidas: Como sair desta fria?
Está preocupado com as dívidas? E que tal se preparar para sair desta fria? Primeiro, vamos entender o contexto das dívidas e como você foi parar nele ou está a caminho. Continue a leitura! A real. Sabe aquele desânimo que surge quando você se dá conta de que está começando o ano já endividado? A dívida é uma realidade do cotidiano da maioria das famílias brasileiras. O comportamento de consumo do brasileiro demonstra que grande parte das famílias abre a porta da frente para convidar o hóspede “dívidas” para dentro de casa. De acordo com a pesquisa da OECD em 2021, o brasileiro acumulou em dívidas um valor real que representa por volta de 52% de sua renda anual. É claro que o endividamento não é exclusividade do brasileiro, mas presente em quase todos, senão em todos, os povos. Por exemplo, neste mesmo estudo da OECD, consta que na Suíça a dívida acumulada do cidadão chega a representar mais de 220% de sua renda anual! Me engana que eu gosto!!! Você está endividado e ao terminar de ler este primeiro parágrafo ficou mais tranquilo, porque chegou à conclusão ERRADA de que sua situação não está pior do que a do seu xará lá na Suíça. Por que esta conclusão está tão errada? Falta uma informação muito importante no contexto do primeiro parágrafo que é a seguinte: quando o brasileiro abre a porta da frente para as dívidas, as dívidas entram de mãos dadas com outros visitantes não convidados, os JUROS ALTOS! Na questão de juros, o Brasil está numa categoria bem diferente da Suíça. Enquanto a Suíça tem a menor taxa de juros em empréstimos do mundo, o Brasil tem a quarta maior taxa de juros do mundo!!! De acordo com o Banco Mundial, os juros no Brasil em 2020 foram de 29,04%. A urgência? A dívida sempre é uma hipoteca do futuro! A dívida exige de você tempo e recursos, hoje e amanhã. A pandemia do COVID-19 nos mostrou quão frágil é a situação quando você não tem uma reserva. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio, em dezembro de 2021 o Brasil chegou a 76,3% das famílias endividadas. O ano de 2021 registrou o maior patamar dos últimos 11 anos. Você faz parte desta estatística? Retomando o futuro! O que acha de eliminar as dívidas da sua vida e espantar o desânimo para longe de sua casa? Em seguida, vou apresentar um cenário normal de pagamento mensal de parcelas e comparar com duas estratégias testadas e comprovadas para eliminar dívidas: “bola de neve” e “avalanche”. Estratégias para eliminar as dívidas e sair desta fria Vamos para um exemplo! Imagine que você está com três dívidas conforme tabela abaixo: Incomoda pensar que no final de quatro anos você terá pago quase R$19 mil só de juros? E se você conseguisse reduzir o tempo de endividamento de 48 meses para 17 meses e de R$19.000 para R$11.000, te interessa? O poder da estratégia!!! As duas estratégias de eliminar dívidas a seguir são muito simples de implementar. O maior desafio é a disciplina de seguir a metodologia até a conclusão. A boa notícia é que a conclusão será bem antes dos 48 meses que irá demorar se você seguir o tradicional pagamento mensal de parcela. Existem basicamente quatro passos a serem seguidos para implementar tanto a estratégia “bola de neve” como a estratégia “avalanche”. Os quatro passos são: Pague a parcela mensal de cada dívida. Defina um valor mensal adicional para dívidas. Faça a priorização das dívidas. Use dinheiro de dívidas para dívidas. Agora vamos entender como estes passos são aplicados nas duas estratégias recomendadas. Bola de Neve Este nome surge no EUA, inspirado na prática de fazer bolas de neve. Na neve você começa com uma pequena bola e na medida que vai rolando a bola, ela vai acumulando mais neve e ficando cada vez maior. No pagamento de dívidas, a ideia é que você começa com um valor pequeno para quitar dívidas e, na medida que vai quitando as dívidas, o valor disponível para aplicar na próxima dívida aumenta. Neste caso, a “bola de neve” é o valor que você tem disponível para aplicar em dívidas. Aplicando esta técnica para as dívidas, a ideia é que você escolha primeiro a menor dívida. No nosso exemplo acima, seria o empréstimo pessoal no valor de R$4.500. Então você irá pagar todas as três parcelas mensais de dívidas e, além disto, pagar um valor mensal adicional de R$300 no empréstimo pessoal. Quando terminar de pagar o empréstimo pessoal, você irá aplicar o valor da parcela mensal do empréstimo pessoal mais o valor mensal adicional à próxima menor dívida, assim aumentando o valor (bola de neve) que você tem disponível para aplicar em dívidas. No exemplo acima, a próxima menor dívida será a dívida de cartão de crédito. Então você passará a pagar a parcela mensal do cartão de crédito mais a sua “bola de neve”. Finalmente, após quitar a dívida do cartão de crédito, você irá aplicar todos os valores em cima do financiamento do carro. Então você passará a pagar a parcela mensal do carro mais a sua bola de neve que cresceu ainda mais com os valores do empréstimo pessoal, cartão de crédito e valor mensal adicional. O resultado desta estratégia pode ser visto em comparação com a abordagem tradicional de pagar a parcela mensal na tabela abaixo: A conclusão da estratégia “bola de neve” é uma redução de 48 meses para 18 meses de dívida e uma economia de R$5.596,68!!! Avalanche A segunda estratégia também está inspirada na neve. Deve ser porque é uma fria entrar em dívidas! Numa avalanche, o movimento de uma pequena quantidade de neve que está suportando uma quantidade muito maior de neve acaba por trazer todo o volume da neve para baixo da montanha. Aplicando este conceito para dívidas, a ideia é escolher qual dívida você deve mexer para acelerar a queda de todas as dívidas. Então, semelhante à estratégia “bola de neve”, inicialmente será um volume pequeno de dívida quitada que fará com que a estratégia “avalanche” consiga derrubar toda a dívida.